quinta-feira, 26 de julho de 2012

Inefável


 Eu ouço daqui da minha casa a música que embalou os passos da bailarina. Suas pernas eram tão firmes ao chão que, por alguns momentos, pensei que não conseguiria voar. Seus movimentos eram precisos assim como meu sorriso ao vê-la dançar. Suas mãos faziam finos movimentos, e seus olhos, fitados em mim, eram fortes. Eu podia tocá-la com o mais bobo pensamento, e ela conseguia meu coração só de vê-la passar. O sangue em minhas veias circulava duas vezes mais rápido, e meu corpo ficava quente, quase febril. 
   Com um  "Arabasque" tomou, por três textos, as palavras mais complexas que provavelmente usaria para dizer o indizível, o que não tem fim. Na leveza de seus movimentos não preciso montar nenhuma interpretação, tudo fica as claras com nossos olhares, é tão óbvio. Algumas vezes queria beijar aqueles pés que sustentava todo meu encanto, outras vezes eu queria apenas que soubesse que estava ali, te observando calada, gravando cada passo e suas posições a uma sinfonia que não pertencia a nossa dança. Alguns passos novos me fizeram querer mudar de ritmo, mas sua boca me pedia pra ficar, e logo minhas lágrimas se iam. Eu não sei dançar, mas humildemente peço-te que só eu aprecie tamanha beleza do balanço de seus dedos, e confesso-te que as poucas vezes que intrusos interferiram ao dançar com você, minha presença foi foi silenciada pelo grito de dor. Minha garganta está meio cansada desses gritos, e meu coração só pede para que ele seja seu único parceiro de dança.

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