quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Humanamente Covarde






Eu poderia nessa madruga enrolar-me nas armas oferecidas pela literatura, banhar meu espaço em branco com um mar de palavras distantes e desprovidas de lógica, para no final, somente no final revelar que falo de amor.  Porém o que rege minha criação nesse cenário noturno são coisas que me levam para baixo, um peso, pés no chão. Muitas vezes me questionei se tinha um corpo sem alma, ou se eu tinha uma alma sem corpo, mas hoje começo a questionar-me quantas almas tenho, quantos olhos consigo enganar e quanto desperdício de tempo consigo presenciar. É estranho como as pessoas sofrem longe de razões ou propósito, recuso a compreender esse vício de dor, que por sinal, é um ciclo prazeroso. Encontremos a razão de separar corações que se amam, talvez o sentido da dor nesse pequeno exemplo se dê pela formação de histórias, sem dor, provavelmente, não existiria Romeu e Julieta, portanto não separemos o queijo da goiaba, não perdoaria tal insulto! Amor não deixa de ser vivido porque alguém morreu, isso é do lado de fora, mas aqui dentro sou só eu e você, não há Shakespeare para nos aconselhar, tão pouco nos escrever, cada passo dado somos responsáveis por cada pegada deixada. Não joguemos a culpa de nossas negligencias em nossa condição humana, seria um pecado imperdoável! Sejamos responsáveis o suficientes para assumir que jogamos o grande amor da nossa vida fora, sejamos honestos ao menos uma vez para admitir que inventamos essa coisa de “amor próprio” para cobrir o despeito, e somente aqui nesse espaço falemos uma verdade: “abandonamos quem amamos constantemente por nossa subjetividade, e nos perdemos no orgulho”.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Fruto do Vago




Por esses caminhos que andei entre paradoxos e alma, pensamento e corpo, perdi-me incontáveis e inconseqüentes vezes, notório eram meus olhos virados e cansados dessas viagens. Reuni um pouco de coragem que carregava no bolso e expulsei o meu corpo a uma superfície gélida e sem sabor, onde cada pedaço de sentimento era desbotado, um ato que jamais poderei escusar a mim mesma, tamanha falta de inteligência e preocupação. É inexigível voltar, mais inadmissível seria ficar aqui nessa estrada sem destino, espinhosa, seca, mas ao mesmo tempo frio. Algumas vezes uns ventos, cujos quais desconheço a força, passam por meus cabelos e aliviam a dor dos cravos, mas inegável é essa aflição. Uma falta de gênero, um excesso de números me cerca e conta, constantemente, um final que nego admitir como meu. Talvez eu tenha perdido razões, porém o emocional não age sobre meu corpo, meus demônios criados, alimentados com cuidado, sem que eu perceba, começam, mesmo hoje, levantar um a um contra o que tento construir, incessantemente um suor, o calor, a construção. Então começo a me questionar sobre o que escrevi esse tempo todo, começo a temer mentiras inventadas por minha própria autoria, e me esvazio, dessa vez, me esvazio do nada ruim que me enchia, e agora ficou o verdadeiro nada, aquele com significado vago, onde posso até mesmo imaginar pequenos pedaços de tecido a voar, uma cena sem ritmo, sem intenção alguma, a exatidão que expressa tudo que sinto agora, colocando a prova minha própria arte, uma capacidade implantada do lado esquerdo do meu cérebro, um desperdício de espaço e talento em um corpo sem alma.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sem muitas coisas


Amo de um jeito só, só de sozinha, talvez a dois, mas em segredo. Amo de todas as formas, todas em subjetividade, mas amo.  De um jeito bem perigoso, mas que eu gosto. Mata-me e talvez eu te mate também, um pouquinho cada dia, talvez sem surpresas, ou tudo isso seja uma única, sem porque, sem intenção e hora marcada. Sonhei que “és” tinha voltado aos seus status, mas acordei, logo triste fiquei, mas feliz por respirar, foi o que me restou, e ingrata não posso ficar. A ansiedade deste dia fazia com que meu coração batesse e pensasse em todas as formas desse amor, um jeitinho bem diferente de sentimento, um amor feio, amor que espera sentada do lado de fora, nem os portões agüentariam tais barras sendo forçadas, como se não houvesse porta, nem tranca, mas fechado, enjaulado, indomável e inacabado. Não vivido, mas vivo! Completamente livre, mas sem ter pra onde ir, assim sou eu, sentimento errante, sem destino. Comigo não carrego muitas coisas, somente lembranças. Restou-me esse pedaço de papel em branco e uma caneta com pouca tinta, porém, roubaram-me as palavras. Talvez eu não saiba escrever, só saiba sentir e respirar, um ar que vem de dentro, vai para fora, uma vida inversa, sonhos sem fim, atitudes contrárias, sem muito que dizer, mas muito que viver. Sem muito receber, mas loucamente oferecida ao sentimento de doar. Sem nada, superficialmente.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Nada

Hoje aqui nessa cidadezinha, um dia de sol, e muito calor, suficiente para queimar meus pensamentos com cada raio. Acordei cedo, pois a cama parecia expulsar o meu corpo estirado e cansado em lágrimas. Uma saudade de que não sabia de onde vinha deixava meu corpo irregular e incabível em qualquer espaço, não importava a forma, eu simplesmente não caberia em superfície alguma. Essa idéia de vazio encontrava o meu nada, um lugar só meu, lugar algum, e era estranho receber aquela visita, enchendo-me mais do menos, muito do pouco, vaziando-me do preenchimento, é essa falta que me faz. Presença é falta de ausência, ausência da falta, mas a única coisa que consigo é pensar em palavras que se repetem, onde paramos. Meus olhos são tocados, e minha respiração constantemente fadigada, cansada de sentir esse ar entrando e saindo, enchendo-me de ar, transbordando de nada. E para me esconder, constantemente, liberto-me dos significados, e procuro palavras vagas, algumas aleatórias, sem destino. Suas expressões ainda são claras, e sua voz intacta e nítida em minhas poucas lembranças, vestindo-me desses cacos. 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Entenda!




Enganando-me na mais bela forma, descobria a ilusão da vida. Constantemente defendendo a “tese” de que vida não é ilusão, essa dor insistia em provar-me o contrário. É como se um cego mentisse dizendo que enxerga, porém pouco a pouco perderia a explicação das formas.  Um surdo não pode descrever a intensidade de um som, e não demoraria, para, que meus passos dessa dança ficassem presos no espelho, e lá ficaria: não me preocuparia com a lógica das palavras, tão pouco de seqüência alguma que acabo de fugir. Respostas ambíguas, uma coisa aleatória que nem eu entendo, porém falemos das formas. Estava eu falando da ilusão encontrada no engano, mas caia nas cores da vida que me enganava de suas belas formas, e o que é isso, eu não sei. Não vou ao menos questionar-me, não mais. Algumas pessoas disseram que nesses momentos é bom chorar, mas eu, estranhamente, não sinto essa vontade. Queriam me colocar em lágrimas, mas a minha vontade é de sorrir nessa tristeza, pois alguém bateu na porta, alguém se interessou por essa porta velha com a maçaneta enferrujada, eu nem sei abri-la, mesmo que eu tenha que arrombá-la irei abri-la de algum modo. O rosto que me espera atrás da porta me faz, me mantém, e me lembra quem eu sou. Já não há motivo para casa escura, nem para as mesmas músicas melancólicas, elas já estão com seu devido dono. E o que me resta agora é abrir os braços.

Outrora: Eu


Eu cheguei aqui com tantas palavras novas, mas é como se nenhuma servisse agora. É estranho como esses sentimentos sem nomes vão e voltam dentro de mim, capazes de me levar ao ápice de uma alegria descoordenada a mais profunda e torturante tristeza. Eu espero, mas eu espero pelo quê? É estranho vestir-se com a melhor roupa, calçar seu melhor sapato, preocupar-se com o cabelo, parar na porta de casa e esperar por um “ninguém” que não irá passar. Por esses dias estive analisando cenas de um filme vivido por mim, porém ao detalhar com meus olhos cada cena senti falta de alguém importante dentro daquelas roupas vazias, eu não estava lá. Como pude não fazer parte da minha vida? Estou em chamas e agora dividida entre a alegria absoluta, ou a tristeza que me faz viver. Você morreria para sorrir? Ou seria capaz de entristecer-se para viver? Eu viciei nesse jogo de perguntas, e as possibilidades me deixaram fora de todos os meus “eus”: um corpo sem alma, ou seria eu uma alma sem corpo? É inquietante olhar aquela mente e não saber a quem pertence, ao mesmo tempo, brilhante. Eu poderia amar-te do beijo mais quente a sua incontrolável teimosia, eu poderia domar seus demônios, digam-se de passagem, traumas que não carrego culpa alguma. Talvez eu seja parte, talvez eu seja peça, mas não de um jogo de xadrez, reles peças não caberiam aqui nesse tabuleiro, e as marcas são diferentes, são todas pretas, umas mais claras, outras mais escuras. Estou acostumada a um mundo sem regras, sem limite, quem sabe até respeito, mas ser repreendida foi assustadoramente prazeroso. Ah! E como foi! Seus olhos carregavam uma mistura de uma leve raiva, um pouco de chateação, e ouso dizer que também vi um pouco de inquietude, inquietude essa sempre cronometrada e analisada por aquele ser, mas eu vi aqueles olhos, e afirmo dizer que algumas vezes não sentia meu medo de estar ali, vulnerável e tão exposta. Eu podia escolher uma trilha sonora, e a lista era grande, poderia até perder-me às opções, e aquela falta de luz prendia-me aquela cama, sentada, mas respirando, esperando, esperando, esperando, sem saber o quê, mas continuava ali, e eu poderia continuar, se me pedisse, para sempre, morrendo um pouco anteontem, ontem, hoje, amanhã, e assim seria essa dependência de pele, que creio em sua existência fielmente: subjetivamente traindo-me.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Prazerosamente Preocupante


Melhor do que sentir esse ar respirado dentro de meus pulmões, somente a alegria de saber que estou viva! Eu poderia ainda hoje, mesmo que sem chuva, correr e dançar em diversos lugares sem ao menos sair do lugar. Eu precisava, esta noite, somente de um céu, aquele que percorri cada centímetro. Um sorriso saia de mim sem motivo, porém gostava de saber que ele estava estampado em meu rosto, sua origem pouco me importava. Como eram insuficientes todos meus artifícios, tanto de palavras quanto de adorno, não era o bastante. Prazeroso era saber que existiam corações por toda parte, e como a ansiedade me usava em seu consumo, porém me entregava facilmente a esse consumismo agradável e sem sentido: não precisava de motivo, qualquer pequeno instante seria notado. “Pertença ao momento”- era o que minha mente dizia. Mesmo certa, não conseguia pertencer nem mesmo a minha felicidade de presenciar tais fenômenos que ocorriam a minha frente: quase inacreditável. Não poderia dizer se pertenceria a mim mesma, o meu eu encontrado novamente, ou simploriamente ao responsável por todas essas borboletas, notoriamente localizadas em meu estômago. Poderia usar inúmeras palavras para descrever minhas últimas horas, porém inútil seria. Não há um preço para o que senti, aliás, tudo que tem preço pode ser comprado, mas não o que está dentro de mim. Não se pode comprar renovo, tão pouco a vida, sequer um sorriso. Começo a viver lembranças reais, verdades inventadas, sem motivo algum, sem promessas. Há algo melhor que essa liberdade? Beijo sem contrato, abraço sem promessas: espontaneidade. O que há de melhor! Vida: entrego-me a vos, de alma e de verdade. Que de mim abandone todos os relógios, e que nem mesmo as amarras consigam me desestruturar do que me construo de concreto.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Hoje: somente 101 palavras


Talvez eu não seja uma escritora reconhecida, e provavelmente todo sentimento que aqui escrevo incapaz, se esconda nesse pequeno espaço, agora, não-branco. Não me importa. Cada pequena estrela nesse universo me conta e me esconde simultaneamente. Cada coração vermelho que desenho em meu caderno, sei a quem pertence. Todos que estão guardados em meu coração compõem um pedacinho daquilo que lhe entrego por inteiro.  Em meus movimentos de dança solitária no meio da sala, expresso todo sentimento e força em mim que as palavras não me atribuem em seus significados, e toda platéia que tenho é uma reles taça de vinho.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ácida Paixão


Vivo de uma infeliz inspiração que insiste em alegrar-me de dor. Constantemente me alimento desses sentidos sem lógica, e do caminho aproveito a falta de destino.  Viajo pelos canais neuróticos de minhas veias, e nos neurônios encontro toda perdição que necessito para mim, como forças vitais, antes a loucura do que o ar que respiro. Atraente e extremamente desejável é essa minha sede por uma água que não bebo, ela brilha tanto. Talvez eu consiga substituir todo o líquido do meu corpo por essa agüinha brilhante, e com o sangue de minhas veias, pintar cada espaço de tela, cada canto de branco. Ah! Se eu pudesse gritar e todos pudessem me escutar, seria tão diferente. Se somente um pudesse traduzir-me. E ele pode ler cada entrelinha das minhas estrelas, e pinta com uma tinta todos os quadros da minha vida, com uma pigmentação que eu desconheço, é tão cheirosa, porém tão ácida capaz de corroer todos os tipos de metal. Aos seus olhos inúmeras vezes, perco qualquer compasso de palavras, e os ritmos ficam aflitos, assim como o descontrole do meu coração, fica perdido, só quer bater para que haja sobrevivência de meu corpo sob efeitos de tamanho significado. Um luto é o que dou a minha inteligência que morre envolvida por tal felicidade: enterre-me.

Programe-se: Homo Sapiens


É aqui em minha zona de conforto onde eu me escondo de todos os medos.  Não consigo me adaptar a esse mundo sem graça dos humanos. Tudo e todos são analisados, de preferência, de cima a baixo. Isso seria normal?  Qual seria a dificuldade das pessoas de escutar as palavras de alguém antes de olhar a marca de seus sapatos? É definitivo! Não consigo me acostumar a um mundo tão frio. Nós, “extra”-terrestres, queríamos aproveitar das riquezas desse azul, mas é algo inexeqüível! Não há nada que sobreviva sem o calor dos sentimentos e da verdade. Pelos anos que vivi aqui não consegui discernir quando mentiam, quando falavam verdades ou quando cumpriam suas promessas, tudo parece ser a mesma coisa, contradições desprovidas de lógica alguma. Alma não é algo que mora perto dos rins, é um campo infinito de verdades, felicidades, dores, sentimentos. Mas de que o homem entende?  Mal consigo respirar esse ar, ele mata os meus filhos antes mesmo de nascerem, ou serem planejados. Como sobrevivem a essa falta de ar? Sejam bem-vindos, ó, ultima geração. Esse ar sufoca suas plantas reprodutivas, e seus meios de sobrevivência, mata seus óvulos, e espermas, um a um, vida por vida. Histórias são escritas antes de ter nascimento, desfazendo-se da alegria que aflora das surpresas. Qual é a graça de todos serem iguais? O mesmo gosto em todos os beijos, a mesmas roupas em homens e mulheres, o mesmo corte de cabelo, os mesmos idéias. Se todos são iguais, ninguém precisa se conhecer, e se apaixonar pelo outro seria uma atitude grosseiramente egocêntrica. É impossível viver pela a metade, mas aqui nesse mundo se conformam em se casar sem amor, enriquecer-se e viver sozinho, abraçar sem sentimentos, só ainda não descobriram como ficar “meio grávidos”, mas em se tratando de metade, quase todo resto já descobriram. Aliás, perdoe-me minha exatidão, eles também não aprenderam a viver sentimentos pela metade, não conseguem ficar meio apaixonados, ou com meia saudade, isso porque todo sentimento por si só é inteiro, completo em sua fiel existência, independem dos humanos que os sentem, a partir daí torna-se claro o fracasso do homem: não conseguem controlar o que sentem. O que você não controla, controla você, é claro e óbvio. Às vezes começo a me questionar se nesses corpos-capas existe, de fato, algo além de seu acéfalo, algo como alma, espírito. Aqui parece ser tudo tão programado. Aliás, eu estou tão acostumada a esse sistema de programação, que marquei a data da minha partida desse planeta, esse plano não foi movido por espontaneidade alguma. Eu até programei de escrever tudo isso, programei de tocar cada um com minhas palavras para ativarem seus pensamentos programados de pensar a respeito e sentirem vontade de programar uma vida diferente.