segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Estátua


Essa agonia está tirando todas as minhas palavras, e se eu não puder me expressar, como vou viver? Como irei pedir um prato de comida, ou dizer que preciso de água? Nós humanos não aprendemos a viver da luz somente. Já se passaram duas horas desde que comecei a escrever, e até agora nada! Nada! Que vazio! Como alguém consegue me esvaziar de amor? Poderia escrever um livro somente de perguntas. Conseguiria você responder sequer alguma?  Não se engane com minha aparência física, minha idade mental é a melhor parte, meu parque de diversões. Eu gosto de ter 40 anos, não é nada mal. Apesar de que, nesse corpo, tudo se comporta em seus devidos lugares, mas sinto falta de alguma coisa, talvez de coisas que ainda não fizeram parte de mim. Não busque perfeição, busque o contrário! Eu escuto cada música como se fizessem parte de um passado distante, mas hoje se completa um ano, nada mudou, aliás, é possível ver a poeira em cima de tudo, mas nada que um pano úmido não resolva, uma polidinha e ficará tudo limpo! Essa sujeira me incomoda muito, mas sou somente uma escultura parada no meio da sua sala, como limpar? Quem disse que objetos inanimados não desejam? É uma cena engraçada. Gosto de ver como lê cada livro e olha pra mim aqui parada, posso rir aqui dentro desse concreto, mas o som não ultrapassa essas paredes, vou lhe confessar que meus olhos brilham quando vejo sua adoração secreta a algo que eu não sei o que é. Um sofrimento divertido. É como morrer sorrindo, é como estar abraçada e sentir frio. Não preciso de razões para viver tais contradições, me mata, mas sem ela eu morreria do mesmo jeito, que dessa ideologia eu viva para morte, e que dessa morte eu nasça de novo, para morrer sucessivas vezes. Estarei eternizada no meio da sua sala. Você passará, os seus filhos irão perguntar de onde vim, e um dia, talvez, até pare no sótão, junto com aquelas coisas fora de moda, mas ainda assim estarei eternizada de alguma forma.

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