domingo, 5 de junho de 2011

Dor Impura


Durante tanto tempo a ausência de palavras me cercou e com ela o vazio de todos esses sentimentos. Sentido, voz, ouvido, coração, o grande nada, e um buraco sem fundo e largura, o que me leva a uma palavra: incauto. A desistência da arte por mim, leva-me ao vacante espaço de labirintos sem paredes, sem caminho, e o nada está presente novamente. Não sei se é o barulho da saudade que me acorda em meio à noite, como se fosse explosões do lado esquerdo do peito. Os lençóis começam a ficar avermelhados, e todo sono se vai. Tortura, tormento não sei bem o nome, sei que sinto e vivo. Em minhas mãos manchadas com esse sangue que sai de dentro do meu peito, a responsabilidade de refletir a construção de caráter, se ímpio eu não sei. Essa brincadeira de céu e inferno que começa com santidade e termina com amor, leva-me ao porão, escuro, porém não só. E na boca o doce sabor do prazer, escorrendo entre meus dedos, logo tomando todo meu corpo, ofegante, porém, forte. O que era para ser torna-se revés, e o que queria dizer passou sob meus olhos, e tudo que não significa o ar respirado que limpa esse meu veículo corpóreo, obedece a essa máquina chamada de mãos, dedos irreverentes e em desordem, assim como cada palavra sem sentido aqui escrita.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Espelho: Únicos Olhos


Pudera os olhos dos dois indivíduos, funcionar como únicos: meros espelhos. Veriam a imagem única, uniformemente: uma intensidade de igualdade. Não haveria mais ou menos, não haveria maior e menor, porém existiria sintonia, sincronia, único, dois em um só. Não é essa a finalidade do amor? Tornar um só.  Independe de qualquer condição humana, seja em aspecto físico, ou rotulações impostos por outrem. É falta de ar, é afeição, é uma independência de tudo, mas preso a uma dependência eterna do indivíduo amado.  Ver com os mesmo olhos significa reviver em sonho um amor antigo, aquele eterno, de todos os dias. Ver a mesma imagem é provocar no outro a sensação de paz e aconchego. É agradecer todos os dias por estar vivo. Uma simplicidade, e as palavras se acabam.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Dor de Lembrar


Aquele abraço não dado, possivelmente, teria sido o melhor, pois seria o último. As palavras não ditas, talvez fossem as palavras mais sensatas a se dizer. Aquele sorriso guardado seria a última imagem que guardaria. Naquele espaço cheio de gente, as mãos se entrelaçavam escondidas de todos os olhares, e o coração acelerado estava quase saindo, mas os lábios sem abertura, sequer um mínimo sorriso era dado, os pensamentos eram sérios, algumas vezes dividia-se entre boas lembranças, e maquinava como deixá-las. Doía tanto participar da felicidade e da saudade que tudo isso deixaria, era tudo que tínhamos.  Vivíamos no alto, e víamos tudo se desmoronar, mas os dedos continuavam entrelaçados, e o sorriso escondia o medo e o dia em que tudo isso acabaria.  A verdade era escondida, em vão, o destino é impiedoso, e a mão de Deus, divina.  O melhor era sair dessa felicidade:  abandonar tudo era saudável, e a tristeza troféu de ter vencido as amarras dos dias.  Eu não reclamo dessa vidinha, pelo contrário, a amo, mas dói lembrar. Lamentável é querer, porém, longe de nossas mãos o poder. Era fim de fevereiro, e o fim dos melhores dias. Eu queria ao menos ter dito um “ te cuida”, ou “ eu não vou esquecer”, mas esse direito me foi tirado, só entenda que o importante sabemos, esse amor é todo nosso segredo.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Falta de Léxico

Quem me dera solta nesse universo sem fim possuísse o dom das melhores palavras escolher. Milhares delas são soltas, porém longe de mim está o poder de organizá-las para expressar aquilo que tanto me canso, frustrando minha mente, em dizer.Talvez seja hora de abandonar a literatura prolongada e basear-me na epítome, encarregado de um sentido de resumo, ou até mesmo, uma provável teoria: admitir a minha falta de faculdade em descrições.  Faltam-me palavras ao sentir, e é tudo que consigo fazer agora. Nunca me dei com limitações e mesmo que existam inúmeras palavras, afirmo que às usaria todas elas em seus reais significados, porém não deixariam de ser finitas.  Um salto: Acometida nesse meu delírio de amor, minha psique fora de mim muitas vezes se tornou contra seu próprio veículo de existência, me fazendo crer muitas vezes que um cérebro funcionaria mesmo fora de um corpo. Minha armadura de metáforas não me protege, e me é vã seu uso, visto que não há como esconder-me da razão e da obviedade. Sinto-me parte de uma colisão de consciências inconscientes, um inferno de pensamentos que agora queima, e me deixa nua de concretude, e me falha a filosofia, filha que sou de tal poesia. Um laudatório ar que respiro, enche meus pulmões, pois até agora tenho sobrevivido as mais dificultosas provas de amar, mesmo que de forma desprovida de controlo, mas ainda me faltam palavras.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Saudade Bagunçada



Não cheguei aqui com propósito algum senão a tentativa frustrante de expressar o que sinto, porém hoje encontrei um nome: saudade. Tomando como sintomas aquele aperto no peito, às lágrimas disfarçadas de sorrisos, e um espaço vazio ao meu lado. Sorrir sozinho não é a mesma coisa de encontrar o motivo do mesmo olhando nos olhos de alguém, um específico alguém. Minhas palavras são breves, pois os poetas, nesse fim de tarde, não conseguiram causar efeito algum sobre minha alma, ou sob minha ignorante aceitação do que sinto. Uma dolorosa e tardia criatividade me rendendo a Augusto, aquele dos Anjos, que escreve claramente o efeito desse sentimento em mim, como escritora, ou como alguém que utiliza suas palavras para uma reles expressão, lindas e indescritíveis: O Martírio do Artista. Porém, efeito algum sobre mim, efeito algum, somente uma pedra no que quero dizer, talvez um instrumento, mas para que serve, ainda não sei. Um efeito no que eu sinto, como se independesse do meu corpo ou pensamento, longe do que sou. E os questionamentos sobre coisas que não sei, começam. Camões me salve com um de seus sábios versos, nem que seja para me salvar do que não vejo, ou obter uma ferida que dói sem sentir, essa anestesia é tudo que preciso agora, aqui, junto de mim. “Vaz” Luís embora e deixe-me com meus medos, pois ao contrário desse poeta, acredito que podem tirar de mim até mesmo o que não tenho, mas o que quero arrancar de verdade me é deixado: Ah! Essa saudade nunca vai!

Desabafo Ignorante


A verdade nem sempre virá a nós de maneira suave, ou com adocicado sabor. Até aqui, nenhuma novidade. Mas o que venho falar é daquilo que nos massacra e nos impede de contar verdades, de ser quem realmente somos, ou até mesmo andar de mãos dadas pelas ruas com quem realmente amamos. Fruto de uma sociedade opressora e completamente intolerante somos produtos do que ela quer. Não adianta um número pequeno lutar contra a alienação sendo que já fazemos parte da mesma. Algumas pessoas podem não ligar, porque querem sempre seus cabelos lisos, ou aquele sapato que acabou de sair, mas pequenas atitudes como essas, futuramente, nos impedem de amar. Somos formatados com pensamentos padrões, como os grandes querem, e se querem saber, não suporto mais isso! Confundem a liberdade de ser como querem com comodismo, falta de identidade, e lutam para serem iguais, lutando para serem comuns, achando que a modinha irá os fazer diferentes. Talvez poucos entendam o que quero dizer agora, talvez nem mesmo eu, que mergulhada em um sentimento de revolta baseado na minha covardia de ser o que realmente sou, mas por vergonha daqueles que se limitam ao uniforme, entendo. A pergunta é: Quando nós mesmo que reivindicamos mudanças, seja ela de qualquer forma, independente de base, vamos começar a fazer alguma coisa por nós mesmos?

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Limitações Mecânicas


Como é agonizante ser um ser limitado em sua margem e massa corporal. Um ser vivente portador de grandes sentimentos, aqueles maiores que eu, mas meu espírito é barrado por esse veículo físico com uma pele esbranquiçada e quase gélida. Umas interpretações que não suportam meu corpo, e planos não finalizados porque os olhos dessa massa me impedem. Vontade de não ter vontade, ou ao menos realizar algumas, mas esse veículo me atrapalha. Tão expressivo, e instrumento de prazer, mas tão longe do que eu quero.   Eu poderia ter feito tantas coisas se minhas mãos não tivessem me impedido, se os meus olhos não filmassem. Uma dádiva, um peso. Prendemos-nos por moral, e perdemos uma, duas, três, inúmeras vezes, pois isso é tudo que representa nosso espírito. Um mecanismo engenhoso programado para, inconscientemente, nos manter de pé, e só. Não nos revela, muitas vezes, mas alguns arriscam em uma leitura, e caem. É impossível uma interpretação com precisão, e tudo que quero fazer está gravado em mim, essas marcas começam de fora para dentro, e às vezes, de dentro para fora. Por que meu corpo impede-me de expressar esse amor que sinto?  

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Irracionalidade


Essa coisa de confusão, de não saber o que é, ou o que quer ser, se quer ir embora, ou se fica. Só sabemos que queremos, não o objeto.Um poder que anula o outro, o de amar anula o de escolha, e mesmo assim os humanos conseguem poetizar a chuva comparando-a com lágrimas. Justifica-se um erro por sacrifício, perdoa-se lendo os olhos, convencendo-se que seu pensamento não corrompe o coração, abrem-se as exceções. Quem inventou essa coisa que algum sentimento mora no coração? Os sentimentos moram no órgão do topo, portador de lógica e razão. Porém, se há razão não há amor, porque para sentir não desenhamos explicações, nem por nossa vontade, e baixos são aqueles que o limitam em palavras, tão incabível é. Um verso, a vida: uma insuficiência. Se eu pudesse me doaria mais, porém o que posso oferecer-lhe além da vida? Essas margens me limitam e as palavras são de pouca valia, onde não cabe sequer o mais simples ciúme. A vida aflorada em sua beleza consegue ser mínima em seu significado perante o grandioso sentimento, diga-se de passagem, de pertencer, uma submissão incompreensível, nem esperada, completamente exigida sem fé de obtê-la. É estranho confiar, mas vigiar. As coisas começam a voltar ao lugar do começo, onde paramos, e tudo que fiz foi percorrer 360º, voltando ao ponto de partida. Que sentimento é esse? Tórrido em sua natureza, digno dos deuses, e presenteado a nós reles seres imundos tão imerecidamente. Uma idéia de complemento é facilmente aceito nesse espaço, uma fragilidade forte, capaz de desmoronar com um olhar despercebido tomado como traição, mas forte a ponto de lutar contra o sistema. A gratidão e o medo de conhecer tais eventos é, provavelmente, pertencer a sua proficiência, e descobrir que isso é só mais uma de suas faces e fases.