segunda-feira, 30 de julho de 2012

Descanso

Ontem me falaram de um novo céu se movendo ao meu favor. As forças ao meu redor entraram em conflito, e senti uma guerra antiga: cavalos, lanças e escudos. Mas foi excitante saber que alguma força nessa imensidão de universo, talvez nem tão grande, posso restringir meu exemplo a grandeza do planeta, esteja se importando, entre milhares de milhares, com meu coração que antes estava em putrefação. Não é algo que eu possa encher de mim mesma, mas a certeza que em alguns momentos devemos continuar em silêncio, pedindo que algo venha dos céus, chorando em lágrimas que gemem que só um alguém específico consegue traduzir, em um altar particular, esperando que um novo mundo seja entregue a você com o mais tom de novidade, com o maior tom de paz e amor. Consigo sentir toda a calma que circula em minhas veias, todo o ar que entra e sai de dentro de mim é, agora, de paz. Ainda na porta está o convite que um dia entregarão. Fiz uma pequena prece e tive certeza que está comigo. Eu soube que não importa o quanto meu coração duvide, ou o quanto minha falta de fé me faz cair, você estará aqui comigo, me carregando em seus braços de amor. Agora eu escrevo de um amor diferente, pois amar, assim como o amor, não precisa de palavras complicadas, pois amar, assim como me ama, é incondicional, e esse amor é o que eu preciso. Malgrado eu não poder retribuir tamanha pureza, então encerro minha prece entregando meu coração repleto de gratidão.

sábado, 28 de julho de 2012

Sistema Límbico

''-O que quer de mim?"- Foi o que meu silêncio perguntou. E continuou a questionar: "- O que quer tirar de mim? O que eu tenho de valor pra lhe oferecer?" Eu queria ser apenas simples, sem todas essas coisas na minha cabeça, e a mancha escura no cantinho da parede me observando. Ela torce por minhas lágrimas,  pois é tudo que tem. Essas palavras que aqui escrevo estão em minha mente, mas não são minhas. Eu não aguento mais, me obriga a escrever, escrever... E minhas palavras é tudo que tem. Queria apenas falar de amor, mas tristeza é tudo que sai de mim hoje. Alguma coisa nesse mundo me escolheu, mas me escolheu pra quê? Sei que há uma inquietação que não me deixa dormir há dias. Meu altar particular foi invadido, e tudo que vejo são as coisas no chão. Há algo latejando no meu sistema límbico, tão cinza. Há algo parando meu coração hoje, e algo escravizando meus dedos, meus olhos, ouvidos... Meus lábios estão irresponsáveis, estão secos sem você aqui. E tudo morre nessa saudade. E tudo que tenho são pregos, e uma música silenciosa, então tudo se acaba aqui, no meu cantinho, na minha mente vazia.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Suplício de Tântalo

Um ser tão sensível, que se o vento que balança as folhas bater em sua cabeça, balança seus cabelos e leva todos seus pensamentos embora. Seus olhos são dispersos,  olhando para o longe, esperando que algo aconteça, ou que alguém venha de lá, um "lá" que ninguém sabe que lugar é. Esperando um futuro distante que ela acredita estar próximo do céu, que independe do inferno que acontece no seu corpo, e na sua mente. É esse o contraste necessário pra se ter fé, pois é sinônimo de espera longa. Seus dedos estão em constante desassossego, e seus olhos iludindo-se com frutos sonhados de paz. Há uma pequena fonte de água jorrando dos seus olhos, e ironicamente sua garganta está seca. É uma estátua de carne e osso que consegue mexer os dedos, é meio empoeirada, e recepciona todos que passam pelos portões de grade branca. Só há uma coisa em si que não pode ser levada: sonhos e imaginação. Na verdade é mais ilusão, pois a desesperança foi culpada de tal petrificação. É tão vermelhinha sua boca que parece uma maçã, está meio ressecada, mas ainda sim merece um beijo molhado, molhado porque não há quem nãosalive sentindo um sabor doce. Então eu paro de narrar em terceira pessoa, e continuo sentada aqui na porta, recepcionando todos que passam pelos portões de grade branca, esperando alguém me buscar.

10 segundos de amor

Todo poeta fala de amor, ainda que baixinho, ainda que implícito em terminações silenciosas de respiração. Algumas vezes o disfarça de dor, outras apenas de desejo, e algumas de loucura. Eu não falo de um objetivo que quero alcançar, eu vivo o amor concreto, aquele que exige meus próprios dedos, rítmicas contrações, aquele que segura a energia do meu corpo: arrepio. Foge de minha compreensão tanta poesia tirada de uma prática não tão agradável de ser vista, algumas vezes parece um nó. Sem o mínimo pudor os batimentos cardíacos aceleram, e tudo que se quer sentir é esse tom aveludado da pele. A pressão sanguínea e o ritmo da respiração chegam ao ponto máximo, e é desse momento que sai as mais belas palavras e sentimentos, e por que não uma definição de amor? A perda do controle muscular voluntário, faz com que a caneta escreva sobre curvas, sobre o caos das veias bombeando por alguns segundos toda a pressão indizível do quão bom é amar, todas as carícias, e olhares nos quais conta-se uma prece. Chamam até de romantismo, eu chamo de satisfação. É matematicamente o momento mais forte, um calculo no qual os dois corpos exalam o que sentem e morre por instantes por algo que vicia. Vestir-se do outro é a mais pura sensação do que os autores aprenderam a chamar de "desvaneio da alma" . Esse amor traz o sorriso mais prazeroso, e junto com ao perfeito encaixe, a certeza  que são seres complementares. Todo poeta fala de sexo, ainda que baixinho, ainda que implícito em terminações silenciosas de respiração, e algumas vezes o disfarçam de amor.

Palavras

Como em transe fiquei parada frente ao relógio, foi triste. Não é a primeira vez que ele revela-se contrário pra mim, como uma contagem regressiva. Meu coração apertou-se, e uma pequena prece saiu da minha boca. Automaticamente vários sussurros vieram aos meus ouvidos, lembrando-me da noite passada. Pediram para minha mente se fechar, mas aconteceu o oposto. Meus olhos e meus sentidos ficaram sensíveis como nunca. Eu conseguia ouvir o vento que entrava sorrateiramente pela pequena abertura na janela, e sentia toda as forças que nos cercam andando pelo corredor indo para meu quarto. Eu só precisava de um pouco de luz pra me manter acordada, eu só precisava de mais um "eu te amo" nesse dia. Sinto que alguma força solta nessa imensidão que apelidamos de "universo" espera algo de mim, tem alguém conspirando algo errado. Nós planejamos um futuro tão bom, sua principal característica é "inefável". Olhei para o espelho, novamente, inúmeras vezes como tenho feitos nesses últimos dias, mas não tinha meu reflexo, tinha filmes, outra vez. Eu via dois futuros: um feliz, e um sem você. Fui obrigada a escrever novamente, ainda que fosse as mesmas palavras, ainda que fosse mais uma declaração de amor como todas as outras palavras que aqui escrevo a você. Eu poderia resumir tudo em três palavras, mas os sentidos e palavras, não mais aleatórias, voam ao meu redor, e eu posso, desta vez, tocá-las e escolher uma a uma. Mas entre tantas palavras, eu só quero poder escolher você todos os dias. E o relógio continua, tic-tac, tic-tac...

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Apenas dance

Segure minha mão, que eu vou te ensinar a dançar a minha música. Talvez não seja a mais bonita, mas prometo não te deixar cair. Podemos caminhar com passos firmes, para que tudo seja feito com a certeza de que não voltaremos atrás. Dizem que o amor é uma dança, e provavelmente a única que sei dançar, e só há uma pessoa que dançaria comigo. Podemos inventar alguns passos e compor nossa própria música. Podemos aproveitar as palavras intolerantes que nos fizeram sofrer, e transformá-las  em uma bela casa, um lugar onde só eu e você teríamos a chave. Nessa dança feita por nós,  tem uma grama verdinha nos fundos, e aos domingos tem barulho de gente querida. A comida teria um cheirinho  de desastre porque eu poderia pisar no seu pé, então você olharia para mim e eu ganharia um sorriso meigo e diria: "-Eu te ensino a dançar o resto" - eu sorriria de volta, e passaria a mão em seus cabelos, e logo depois encaixaria minha cabeça em seu ombro. Aquele lugar é feito sob medida para mim, é tão seguro. Continuaríamos com passos mais calmos, e toda noite nossa cama seria quente, seus dedos percorreriam meu corpo, e não tão cedo cairíamos no sono. A música continuaria tocando, e já estaríamos na sacada, e antes que a dança terminasse eu pediria: Dança comigo para sempre?

Inefável


 Eu ouço daqui da minha casa a música que embalou os passos da bailarina. Suas pernas eram tão firmes ao chão que, por alguns momentos, pensei que não conseguiria voar. Seus movimentos eram precisos assim como meu sorriso ao vê-la dançar. Suas mãos faziam finos movimentos, e seus olhos, fitados em mim, eram fortes. Eu podia tocá-la com o mais bobo pensamento, e ela conseguia meu coração só de vê-la passar. O sangue em minhas veias circulava duas vezes mais rápido, e meu corpo ficava quente, quase febril. 
   Com um  "Arabasque" tomou, por três textos, as palavras mais complexas que provavelmente usaria para dizer o indizível, o que não tem fim. Na leveza de seus movimentos não preciso montar nenhuma interpretação, tudo fica as claras com nossos olhares, é tão óbvio. Algumas vezes queria beijar aqueles pés que sustentava todo meu encanto, outras vezes eu queria apenas que soubesse que estava ali, te observando calada, gravando cada passo e suas posições a uma sinfonia que não pertencia a nossa dança. Alguns passos novos me fizeram querer mudar de ritmo, mas sua boca me pedia pra ficar, e logo minhas lágrimas se iam. Eu não sei dançar, mas humildemente peço-te que só eu aprecie tamanha beleza do balanço de seus dedos, e confesso-te que as poucas vezes que intrusos interferiram ao dançar com você, minha presença foi foi silenciada pelo grito de dor. Minha garganta está meio cansada desses gritos, e meu coração só pede para que ele seja seu único parceiro de dança.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Futuro desejado


São 1:37 da manhã, e eu venho a esse pequeno espaço em branco, registrar a minha visão, ou talvez uma pequena alucinação, porém digna de acalmar meu estúpido coração jovem apressado. Ainda a pouco, levantei-me, meu colchão parecia não me caber de tanta saudade. Levantei-me e fiquei frente ao meu reflexo, olhando para o espelho, algo inesperado aconteceu, conseguia ver um rosto enrugado, e por um instante duvidei ser o meu. Aos poucos essa imagem começou a virar um pequeno filme, e conseguia ver um futuro meu não muito distante da idade da minha alma. De assustador passou a me agradar tanta liberdade que  havia alí. Os anos haviam me feito muito bem. Eu acordava todas as manhãs com pensamentos carregados de palavras torpes: "-Caralho, já é hora de levantar."- Mas eu era feliz, menos poética, é claro. Meus olhos filmavam, todas as manhãs,  o balanço dos quadris da jovem que servia meu café, passado tantos anos, ela ainda continuava como uma menina. Gostávamos de admirar as curvas da estrada em frente a casa que estávamos, e as novidades por alí não paravam de acontecer, ainda tínhamos muito vigor nos ossos. Eu era muito velha e nem tudo no meu corpo estava em seu devido lugar, mas a pintura em minha pele perpetuava nossa juventude, e nos lembrava toda a história vivida. Eu sabia que não precisaria nada além de envelhecer sem arrepender de nenhuma escolha, e eu tinha convicção do que havia feito na juventude: ignorei toda falta de amor. Aos poucos a imagem foi indo embora, mas comigo ficou a certeza de que vai chegar o dia em que poderei livremente falar de amor.

Iluminada pela falta de sentido


    
 Hoje eu acordei com vontade de todos os tipos: Acordei com vontade de transformar o reflexo no espelho. E quem nunca teve essa vontade? Esse contraste de filosofia e flores, de palavras doces e o amargo da minha boca tem congelado meus pensamentos, e tudo começa a ficar aleatório a mim.
     Hoje eu pensei, pela primeira vez, em salvação, e tudo que eu quis mudar em mim com esse lembrete foi o lado de fora. Primeiro eu pensei que mudar o corte do meu cabelo cairia bem pra alguém que não consegue mais coordenar seu próprio apetite. E depois pensei: "-Eu ficaria muito sexy com algumas tatuagens."- Isso confirmaria o que as pessoas pensam ao meu respeito. "Alí vai ela, louca, contando suas histórias pra todo mundo, essas que ela coloca na pele",as pinturas expressariam o quanto sou completa. Eu gosto da idéia de ser uma tela ambulante, eu gosto da ideia de não ter ideia alguma na cabeça. Eu ficaria triste se, com toda esssa poesia e doce crise existencial, me chamassem de normal. Oh! Isso sim me deixaria com vergonha. É tão pertubador... Esses trapos velhos que vocês usam não cabem em mim, e minha consciência agradece. As palavras difíceis foram embora da minha cabeça, e os autores que ditam leis também. Nada de frases calculadas, que seja espontâneo e leve, assim como a vida, não precisa fazer sentido algum.

Julieta e Julieta

Quem sou eu? Ninguém! Mas se quiser me dar nome, pode me chamar de Julieta. Eu queria voltar naquela época, e mudar apenas um ítem da "estória". Queria dispensar o queijo. E que mal há em querer apenas goiabada? Talvez não seria o livro mais vendido, mas continuaria, em sua essência, a mesma coisa: o amor. Meu desejo é que fôssemos apenas seres sem rótulos, sexo, sem pré-julgamentos, apenas livres, livres para ser, querer, e poder se vestir de amor. Não quero desmerecer Romeu, mas eu prefiro outra Julieta.  Eu tenho boa memória,  e ainda é fresco seu cheiro no ar, o cheiro da verdadeira dona do espaço de Romeu. Seus movimentos ainda são vivos nessa dança, e como era lindo o seu corpo. E eu não olho seu corpo apenas por saber apreciar belas curvas, mas  por poder apreciar de perto a força, dominío e independência. A melhor parte  é lembrar que ao fim daquela dança você esteve encostando sua pele na minha, suada, e tão quente. Eu pertenço ao seu suor, Julieta. Eu pertenço ao seus olhos, e você pertencia ao meu desespero de encontrar o que sou.   Você construiu em meus olhos, a minha alma. Hoje eu posso, finalmente, assumir que és dona de cada palavra minha, de cada desejo da minha pele, de cada pedaço de papel com tinta. Um beijo pra Shakesperare.