quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Fruto do Vago




Por esses caminhos que andei entre paradoxos e alma, pensamento e corpo, perdi-me incontáveis e inconseqüentes vezes, notório eram meus olhos virados e cansados dessas viagens. Reuni um pouco de coragem que carregava no bolso e expulsei o meu corpo a uma superfície gélida e sem sabor, onde cada pedaço de sentimento era desbotado, um ato que jamais poderei escusar a mim mesma, tamanha falta de inteligência e preocupação. É inexigível voltar, mais inadmissível seria ficar aqui nessa estrada sem destino, espinhosa, seca, mas ao mesmo tempo frio. Algumas vezes uns ventos, cujos quais desconheço a força, passam por meus cabelos e aliviam a dor dos cravos, mas inegável é essa aflição. Uma falta de gênero, um excesso de números me cerca e conta, constantemente, um final que nego admitir como meu. Talvez eu tenha perdido razões, porém o emocional não age sobre meu corpo, meus demônios criados, alimentados com cuidado, sem que eu perceba, começam, mesmo hoje, levantar um a um contra o que tento construir, incessantemente um suor, o calor, a construção. Então começo a me questionar sobre o que escrevi esse tempo todo, começo a temer mentiras inventadas por minha própria autoria, e me esvazio, dessa vez, me esvazio do nada ruim que me enchia, e agora ficou o verdadeiro nada, aquele com significado vago, onde posso até mesmo imaginar pequenos pedaços de tecido a voar, uma cena sem ritmo, sem intenção alguma, a exatidão que expressa tudo que sinto agora, colocando a prova minha própria arte, uma capacidade implantada do lado esquerdo do meu cérebro, um desperdício de espaço e talento em um corpo sem alma.

3 comentários:

  1. Parabéns perfeito mais uma vez !! seus textos são lindos.

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  2. "um desperdício de espaço e talento em um corpo sem alma"
    Discordo! Você é muito inteligente e escreve bem demais para se rum desperdicio. Textos muito bons!

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