domingo, 5 de dezembro de 2010

Sem nome

    Eu, enquanto ser vivente e errante que sou registro às 00h06min de uma noite qualquer de dezembro, especificamente sexta-feira, a queima do livro da minha vida. Talvez uma pobre literatura relatando meus enganos, mas que por algum tempo ousei chamar de meu. Em tal escrito deitei a tinta azulada de uma caneta qualquer a reles pedaços de papel branco, que mais pareciam rios de tormenta. Coisas que muito me diziam, porém nada me traziam ao entendimento. Uma história narrada em terceira pessoa para que, muitas vezes, me encobrissem de fatos repletos de sentimentalismo e grande estima, as minhas lembranças, lembranças essas, impossíveis de serem apagadas da estrada que, sabiamente, denomino de vida. Narrando ousadamente e imerecidamente sobre essa estrada, entrego-me a relatos de grandes viagens em um mar de atividades psíquicas que, ora fazia encontrar-me, ora perder-me de mim mesma. Seria hipocrisia de minha parte negar tais encontros promovidos por meus enganos e uma estesia incontrolável, que por meio de parágrafos em desordem, me contavam para o tempo. Ou era o tempo se contado para mim? Eu não sei! Uma narração palpável a imaginação ocular, quase um delírio. Incontáveis vezes e estrelas no céu me faziam reescrever episódios vividos por mim, mas que palavras não sabiam adornar a tal “script”, significados corretos em suas reais expressões. Havia uma insuficiência de palavras para definir sentimentos povoados em mim ao protagonizar cada cena composta tão somente, tão a dois. Não me envergonho ao relembrar imagens de um filme cinematográfico que muito me fez chorar, muito me fez separar-me de meus “eus” e encontrar-me desnuda de mim, porém reconhecer quem verdadeiramente sou em um corpo vazio, sem alma, capaz de esvaziar qualquer espaço de intenções encripto em meu subconsciente através de olhos vagos: cansados.  Mas foi ao fixar meus olhos em um ponto vacante, movida por uma introspectiva, reconheço uma mente branca, tomada pelo nada, por sentimento nenhum, levando-me, erroneamente, a perder palavras pensadas, possivelmente, só desvendadas pela dianética desprovida de lógica, uma verdadeira apresentação de introduções insanas de pensamentos pensados por sonhos. Lembro-me agora, nesse exato momento, das vezes que andei pelas ruas e pelas notas do piano procurando por alguém pra me dizer quem realmente sou. Uma resposta buscada por mim incessantemente, visto que estou condenada a me perder ao me encontrar, e ao me encontrar me perder novamente, sucessivamente, afirmando minha teoria: o que nos mantém vivo é o principal causador de nossa morte tal como o amor, que se torna um sonho mortal que não nos cansamos de sonhar, e tudo que fazemos é dormir para viver essa morte que nos completa, e nos faz capaz de obedecer à idéia comprada pela eternidade, pela simples vontade de perpetuar na história a pessoa a quem doamos nosso ser deduzido. Sonhando sobre a verdadeira dor do sofrimento, sigo nesse caminho de papel que nada me serve pra traduzir o que se passa em um abismo composto por onze mil palavras, que me separam do real e do irreal, e tudo que faço é sonhar, e sonhar de novo. Tentando viver uma vida e um amor, descubro verdadeiros paradoxos da minha alma. Sou feita de amor e docemente estruturada de desejo, sou vida, e vivo! Cada passo que dou, independentemente do meu revés, eu descubro que tudo isso não é engano, que luto pra possuir os braços que seguram meu mundo sob um universo só nosso, onde compomos nossas melodias, e podemos até mesmo escolher os instrumentos para tocar tal arte. Onde desconheço o medo de me entregar, e viver, que me perco e me torno fraca, mas que para viver essa fraqueza morreria hoje, e amanhã, depois, e constantemente, só para poder entregar-me aquele corpo, e cantar minha vida com suas palavras por minha permissão, e ficar naqueles olhos e possuir aquela mente, exatamente onde quero ficar pela eterna morte do amor.

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