quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Câmara Escura.


01h42min era a hora marcada em meu relógio quando as paredes do quarto começaram a se aproximar, ficaram muito perto, mas não conseguia atingi-las.  Eu estava sentada frente à mesinha de sempre quando percebi uma imagem estranha tomando conta do ambiente, uma imagem escura, a mesma que apareceu a Edgar Allan Poe em forma de uma ave sinistra, visitava-me na complexa simplicidade da escuridão, um inferno de pensamentos falidos. Subitamente meus braços se prendem para trás e começo a ver esses pensamentos fora de mim, porém, desta vez,  não podia tocá-los. Mal sabia eu que o dia começaria pelas trevas, não pela laranja.  Nesta extensa madrugada estava eu fora de mim controlada por pensamentos que desconhecia a origem. Algumas vezes não me sentia intimidada, podia até mesmo sair do meu corpo e enfrentá-los, mas algumas vezes, tão obscuros, faziam-me esconder em algum canto dentro de mim, dentro dessa carcaça que ouso chamar de corpo. Uma luta era travada com esses pensamentos, e eu usava palavras de mentiras para contar a verdade a eles. E quem era eu ali? Eu não sabia, como não sei até agora. “Quem” é só uma forma de ser. Mas qual forma eu assumia? Abstrata, talvez. Falhar, naquele momento, era colocar em dúvida tudo que eu acreditava. Pouco a pouco a tranqüilidade dessa repetição invadia-me, mas não me impedia de transitar entre meu corpo e o ambiente, descobri que podia voar entre esses espaços. Algumas vezes descobrindo-me no que me era oferecido, entrava em transe ou em uma espécie de loucura, não sabia definir muito bem. Mas lembro-me que passei horas em um desses vôos olhando em um ponto fixo na parede fria, tão branca que me permitia brincar, desenhar e contar qualquer história naquele espaço. Toda essa orquestra de perdidos e falidos fez-me descobrir-me um pouco mais, de um todo 0,1% do que sou, entretanto, ao mesmo tempo levou-me a zero, pois as sensações propostas não cabiam naquele espaço que, inicialmente, julguei ser extenso, intenso. Um mistério poético, contraditório, cuja chave de tal segredo deveria ser procurada por mim. Tornando-me novamente cobaia de minhas próprias experiências. Se isso vai dar certo ou não, pouco me interessa insanos resultados, todos os caminhos de erros e acertos me levarão a algum lugar, o que não permite desperdício de aprendizado, sigo.

Um comentário:

  1. Sem curtição, um dos melhores que já li... gosto mt de textos desse tipo e amei esse.

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